Quando eu morrer, uns dirão que fui feliz
Outros, que fui arauto de melancolia
Sei que uns irão lembrar tudo o que fiz
E que outros me irão esquecer um dia.
Sei que alguns recordarão o que eu lhes dei
Mas a muitos eu não dei coisa nenhuma
E que as ruas e pessoas que eu amei
Passarão como névoa que se esfuma.
O meu corpo vai ser pó e cinza e nada
E o meu sangue cessará de se agitar
Como um dia que passou...Fui madrugada
Manhã, tarde, vida breve a sossobrar.
Mas aqueles que por meu caixão chorarem
Descerão também às casas do além
Quando aqueles que eu amei também finarem
Eu não mais serei lembrado por ninguém.
Mas a vida não se mede pelo tempo
Que é curto para quem o procurar
Ficarão ainda as bagas de um rebento
Fruto novo de raiz sempre a medrar.
E o fruto não nasceu por ter nascido
E o fruto permanece em todos nós
Há um princípio em tudo...Tudo é tido
Porque assim também tiveram seus avós.
Permanecerei nos traços de algum rosto
Na colheita de uma alegre sementeira
Ficarei numa canção...Em algum gosto
Nas maneiras de podar uma videira.
E no dia em que achares que vens do nada
Lembrarás porque ninguém se é sozinho
Uma pedra é uma pedra....Mas a estrada
São as pedras que perfazem um caminho.